Será que a prescrição de medicamentos, feita pelo enfermeiro é mesmo sensata ?

Pelos meus 12 anos de formado e grande parte desses, trabalhando na atenção básica, percebo uma grande falha em relação ao tema, que é o bom e velho "desconhecimento de causa".
 Há uma crise de identidade quase que irremediável do enfermeiro, por hora trabalha com promoção, por outra prevenção e ultimamente na medicalocentricidade do cuidado. Não aquele cuidado médico, feito pelo médico, aqui eu falo o cuidado médico feito pelo enfermeiro.
Hoje o enfermeiro tem como ferramenta, enfatizo que não deveria ser a única, a caneta e o bloco de receituário de medicamento. Este instrumento deveria ser usado com zelo e responsabilidade como também utilizado apenas  em último recurso, após terem esgotadas as outras alternativas para o cuidado, .No entanto o uso da prescrição, vem assumindo basicamente grande parte do cuidado.
Esse fato além de ter sua gravidade, possui uma característica preocupante: a falta de preparo do prescritor enfermeiro. A generalização é apenas para realçar o problema da formação do prescritor enfermeiro. Cito alguns motivos que atrapalham a formação:

  1. A faculdade não preparara o profissional para essa atividade. 
  2. Há carência de educação em serviço e cursos voltados a prescrição do enfermeiro. 
  3. A banalização de portarias "CTRL C" que é difundida em muitos municípios com características epidemiológicas, demográficas e com determinantes de saúde diferentes. 
  4. Simplesmente a acomodação de muitos profissionais em não saber até o que ele pode prescrever, prescrevendo muitas vezes insumos não contemplados nos protocolos. 
  5. Verticalização burocrática, o bom e velho, "taqui essa portaria leia o que vocês podem prescrever", sem levantamento dos problemas de saúde local. 
  6. A precarização do vínculo fazendo que ocorra uma alta rotatividade de profissionais, que pulam de galho em galho não tendo tempo necessário para absorver os vários protocolos de rotinas municipais.
O fato é preocupante e nós enfermeiros pecamos e muito, seja por medo de ser demitido ou mesmo por desinformação.
A nossa prática, que deveria ser focada no cuidado, está abandonada. O Coren/Cofen promulgam, de goela a baixo, resoluções, resoluções e resoluções para que os empregadores implementem a Sistematização da Assistência de Enfermagem(SAE), mas no fundo é só para dizer estão fazendo alguma coisa.
Na prática vemos a ineficiência dessas resoluções, muitos colegas enfermeiros não tendo segurança para implementar assistência de enfermagem ou por desinformação ou por falta de tempo mesmo, pois  todos sabem que é demorado, principalmente nos primeiros atendimento e se na unidade de saúde você demorar mais de 30 minutos em um atendimento, logo é cobrado e muitas vezes hostilizados pelos gestores.
Então o qual seria a solução?
Uma reformulação curricular urgente das faculdades enfermagem, profissionalismo e conhecimento técnico da gestão, educação continuada e abertura de cursos de aperfeiçoamento nessa área; já seria um bom começo.
Também a participação mais efetiva do Cofen/Coren, na fiscalização, em uma legislação mais consistente e o básico, que é função do Cofen/Coren:  promover educação voltada para a SAE e prescrição de medicamentos.
Mas quando isso vai acontecer? Para começar é fazer apenas o que podemos fazer não tentar inventar a roda, exigir protocolos que condizem com nossa realidade, orientar a população a respeito do nosso trabalho. Já não digo informar a Gestão, pois isso já seria uma obrigação desta entender que a SAE é demorada e criteriosa, isso não deveria ser mistério para quem governa as ações de saúde.